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Resenha do livro: POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância.

Resenha do livro: POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância. Tradução: Suzana Menescal de A. Carvalho e José Laurenio de Melo. Rio d...

PRECONCEITO LINGUÍSTICO... VOCÊ SABE O QUE É?





O preconceito linguístico é uma forma de preconceito a determinadas variedades linguísticas. Para a linguística, os chamados erros gramaticais não existem nas línguas naturais, salvo por patologias de ordem cognitiva. Segundo os linguistas, a noção de correto imposta pelo ensino tradicional da gramática normativa origina um preconceito contra as variedades não-padrão.O sociólogo Nildo Viana foi quem primeiro apresentou uma visão marxista deste fenômeno, relacionando-o com a educação escolar e a dominação de classe, bem como questionando pesquisadores deste tema. Para Viana, a linguagem é um fenômeno social e está ligada ao processo de dominação, tal como o sistema escolar, que é a fonte da "dominação linguística". A ligação indissolúvel entre linguagem, escrita e educação com os processos de dominação, segundo o autor, é a fonte do preconceito linguístico, pois a língua escrita veiculada pela escola se torna a língua padrão e esta se torna norma geral que todos devem seguir, mas o seu modelo se encontra entre os setores privilegiados e dominantes da sociedade. Assim, ele conclui que a escola é a base do preconceito linguístico, e esta reproduz as desigualdades sociais. Na Inglaterra, por sua vez, a linguista Deborah Cameron, autora do livro Verbal Hygiene, inicia sua obra citando uma manchete um jornal dominical, que diz numa tradução livre "Tradições Inglesas do Passado estão sob ameça". 
A reportagem não remete a nenhum grande costume inglês, mas sim a cidadãos ingleses comumente chamados de "anoraks", que saem às ruas para panfletar que a língua inglesa está sendo descaracterizada, arruinada pela mídia em geral. 

Como isso se torna relevante para um livro chamado Higiene Verbal? O que ficaria claro, a partir desse ponto, é que existe um número significativo de pessoas que se importam sobre questões linguísticas; essas pessoas não apenas falam seu próprio idioma, mas são apaixonadas por ele. 
A autora se propõe então a ouvir o que essas pessoas têm a dizer, e compreender o porquê 
delas agirem de tal modo. A autora comenta uma situação na qual ela estava com um grupo 
dessas pessoas presentes no Conway Hall (um centro de estudos culturais, independente) e, quando ela disse que era uma linguista, todos ficaram animados, e disseram: “Uau, como os linguistas combatem esses abusos da linguagem?”. A autora, meio sem jeito, acabou evitando a discussão. Ela acredita que eles não entenderiam que a linguística é uma ciência descritiva, e não prescritiva, além de acreditar que essa seria uma resposta um tanto rude. Em 5 de julho de 1993, num programa de rádio da BBC, Michael Dummet, um professor emérito de lógica, apontava para 
o trágico estado da língua inglesa e apontava como culpadas desse fato as idéias ridículas dos linguistas. Linguistas, diz ele, proclamam que a Língua não importa, e pode ser usada e abusada
 à vontade. Entre outros casos considerados "trágico-cômicos" pela Linguística, a autora cita um memorando do jornal The Times, onde o editor diz para os jornalistas que não usem a palavra "consensus", pois era uma palavra horrível/odiosa. Por fim, a autora reitera sua proposta de
 tentar compreender (compreender não significa concordar, ela deixa isso claro) 
o posicionamento assumido por essas pessoas frente a questões linguísticas. 
Nos Estados Unidos da América, apesar da não existência de uma academia reguladora dos assuntos da linguagem, não faltam pessoas que tomam pra si essa função, sendo elas conhecidas como "language mavens". Essas pessoas chegam até mesmo a constituir grupos de defesa de um chamado "inglês real", verdadeiro, ou numa posição mais globalista como acontece no caso do Esperanto. Elas mandam cartas para jornais dizendo/apontando para um "declínio do bom inglês". Seus alvos vão além dos jornais, chegando a atacar anunciantes de panfletos, banners etc.

Variação linguística e preconceito :  

Da mesma forma que a humanidade evolui e se modifica com o passar do tempo, a língua acompanha essa evolução e varia de acordo com os diversos contatos entre os seres pertencentes à comunidade universal. Assim, é considerada um objeto histórico, sujeita a transformações, que se modifica no tempo e se diversifica no espaço. Existem quatro modalidades que explicam as variantes linguísticas: variação histórica (palavras e expressões que caíram em desuso com o passar do tempo); variação geográfica (diferenças de vocabulário, pronúncia de sons e construções sintáticas em regiões falantes do mesmo idioma); variação social (a capacidade linguística do falante provém do meio em que vive, sua classe social, faixa etária, sexo e grau de escolaridade); variação estilística (cada indivíduo possui uma forma e estilo de falar próprio, adequando-o de acordo com a situação em que se encontra). Entretanto, mesmo que as variantes acima descritas expliquem as variações linguísticas, o falante que não domina a língua denominada "padrão" por sua comunidade linguística, sofre preconceitos e é "excluído" da "roda dos privilegiados", aqueles que tiveram acesso à educação de qualidade e, por isso, consideram-se "melhores" que os demais. Esse tipo de preconceito é denominado preconceito linguístico. De acordo com Marcos Bagno, "preconceito linguístico é a atitude que consiste em discriminar uma pessoa devido ao seu modo de falar". Como já dito, esse preconceito é exercido por aqueles que tiveram acesso à educação de qualidade, à “norma padrão de prestígio”, ocupam as classes sociais dominantes e, sob o pretexto de defender a língua portuguesa, acreditam que o falar daqueles sem instrução formal e com pouca escolarização é “feio”, e carimbam o diferente sob o rótulo do ”erro”. Infelizmente, “preconceito linguístico” é somente uma denominação “bonita” para um profundo preconceito “social”: não é a maneira de falar que sofre preconceito, mas a identidade social e individual do falante. Há muitos preconceitos no mundo todo: preconceito racial, preconceito contra os pobres, contra as mulheres..., enfim, uma infinidade de “absurdos” cometidos por parte dos “ignorantes”. Mas, dentro do chamado “preconceito linguístico”, posso citar alguns considerados “destaque”, devido à constante frequência de suas ocorrências. “A norma padrão constitui o português correto; tudo o que foge a ela representa erro”. 


Dentro do ambiente escolar, muitos professores costumam repetir essa frase. Porém, é necessário que eles compreendam que não existe português certo ou errado, mas modalidades de prestígio ou desprestígio que correspondem ao meio e ao falante. O apagamento de uma modalidade em favor de outra é despersonalizador, pois o indivíduo, ao ingressar na escola, possui um repertório cultural já formado pelo seu meio e, se lhe for dito que tudo o que conhecia (no caso, sua linguagem) é “errado”, perderá sua identidade verdadeira e poderá adquirir o preconceito. Por isso, é desejável que o aluno não abandone sua modalidade em seu meio. Mas, a prática da norma culta deve ser ensinada para a promoção social do mesmo. As instituições de ensino deveriam tratar a questão do ensino da norma culta e das variantes linguísticas de maneira com que os alunos conseguissem compreender a norma e suas variantes. Deveriam promover aos alunos uma reflexão sobre a língua materna, distinguindo o que é adequado ou inadequado em determinadas situações de uso. Dessa forma, a classe sócio-economicamente desprivilegiada teria a oportunidade de ascensão social e de acesso aos instrumentos culturais, obtendo prestígio. Mas, ao contrário do que é realmente adequado ao ensino da língua, as escolas estão mantendo as classes menos favorecidas em um baixo patamar, sem lhes promover o conhecimento da língua materna e a reflexão sobre as variações linguísticas existentes, privando-as de uma oportunidade de ascensão social. 
É importante que os professores promovam os instrumentos necessários para que os alunos possam ser capazes de compreender as linguagens formal e informal e adequá-la às diversas situações que lhes acontecerem. Há também a necessidade de fazê-los refletir sobre o que é
 “certo e errado”, levando em consideração as diversas variações históricas, estilísticas, geográficas e sociais que a linguagem possui. “O bom português é aquele praticado em determinada região”, “O caboclo fala errado”, “Nenhum brasileiro fala o português corretamente”

Indivíduos não conhecedores das variantes linguísticas “adoram” fazer afirmações como essas. Mas é preciso que coloquem em suas mentes que a língua varia de acordo com a região em que é falada (devido à sua cultura, costumes e classe social) e que essa variação afeta a norma criando, então, uma modalidade de linguagem para cada situação específica de ocorrência verbal. Não existe então “certo e errado” no ato linguístico, mas sim variantes decorrentes de alguns fatores como região, classe social e etc. “O bom português é o das épocas de ouro da literatura”. Primeiro, há um português culto falado e um escrito. Mas a língua escrita é mais conservadora que a falada; segundo, a norma ancora a língua no contemporâneo; terceiro, a língua é um fenômeno social, e sua existência prende-se aos grupos que a instituíram. 


Bagno afirma que “A mídia poderia ser um elemento precioso no combate ao preconceito linguístico. Infelizmente, ela é hoje o pior propagador deste preconceito. Enquanto os estudiosos, os cientistas da linguagem, alguns educadores e até os responsáveis pelas políticas oficiais de ensino já assumiram posturas muito mais democráticas e avançadas em relação ao que se entende por língua e por ensino de língua, a mídia reproduz um discurso extremamente conservador, antiquado e preconceituoso sobre a linguagem”. Programas de rádio e televisão, sites da internet, colunas de jornal e outros meios de multimídia estão cheios de “absurdos” teóricos e “distorções”, pois são feitos por pessoas sem formação científica sobre o assunto. 

Divulgam “bobagens” sobre a língua e discriminam os estudiosos da linguagem. Isso atrapalha a desmistificação do “certo e errado” e acaba propagando o preconceito. Em suma, para se acabar com o preconceito, seja ele racial, social ou qualquer outro, é necessário que haja uma democratização da sociedade, que dê oportunidades “iguais” a todos, reconhecendo e respeitando suas diferenças. E mais: a palavra “preconceito” significa um “pré” conceito daquilo que ainda não se conhece a fundo. A partir do momento em que se estuda determinado assunto, que se aprende sobre ele, o que se deve adquirir é “respeito”, e não “discriminação”. 

Bibliografia BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico. São Paulo: Edições Loyola, 2001. ISBN 8515018896 CAMERON, Deborah. Verbal Hygiene, Londres e Nova Iorque: Routledge, 1995. ISBN 041510355X POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1997. ISBN 8585725249 VIANA, Nildo. Educação, Linguagem e Preconceito Lingüístico. Plurais. vol. 01, n. 01. Jul./Dez. 2004. 

O LIVRO PRECONCEITO LINGUÍSTICO:


 Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), além de
 tradutor, escritor e lingüista, Marcos Bagno é autor de Preconceito lingüístico - o que é, como 
se faz (Edições Loyola). Bagno tenta desfazer a idéia preconceituosa de que somente quem fala 
de acordo com a Norma Culta é que fala a nossa língua. Bagno afirma que "o preconceito lingüístico se baseia na crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome
 e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogadas nos 
dicionários (...)".

Logo no primeiro capítulo, ele aponta oito MITOS do preconceito lingüístico, que são: 
 1. "A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente"
 2. "Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português"
 3. "Português é muito difícil" 
4. "As pessoas sem instrução falam tudo errado" 
5. "O lugar onde melhor se fala português é no Maranhão" 
6. "O certo é falar assim porque se escreve assim" 
7. "É preciso saber gramática para falar e escrever bem" 
8. "O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social" 


 Em seguida, o autor destrincha uma série de equívocos cometidos pelos senhores-gramáticos-da-norma-culta. Faz críticas, principalmente, aos que tratam a Gramática da Língua Portuguesa como se ela fosse o deus maior. Com bons argumentos, Bagno reforçou as minhas suspeitas quanto ao preconceito lingüístico no Brasil. A vontade que tive, assim que comecei a ler o livro, foi criar um site para tratar somente desse assunto. Como não será possível fazer isso agora, a partir de hoje, alguns dos meus textos serão relacionados ao tema. Uma coisa ou outra. Estarei engajada nessa luta contra a perpetuação de um dos mecanismos de exclusão social. "É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é retratada nas novelas de televisão, principalmente da Rede Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador. 
No plano lingüístico, atores não-nordestinos expressam-se num arremedo de língua que não é falada em lugar nenhum no Brasil, muito menos no Nordeste. Costumo dizer que aquela deve ser a língua do Nordeste de Marte! Mas nós sabemos muito bem que essa atitude representa uma forma de marginalização e exclusão." (BAGNO, p. 44)

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