Instituído pela UNICEF em 24 de agosto, o Dia da Infância é bem diferente do tradicional e popular Dia das Crianças, comemorado no dia 12 de outubro. Nele, a idéia não é presentear os pequenos com brinquedos, agrados e regalias, mas sim, promover uma reflexão sobre as condições de vida de nossas crianças em todo o mundo. Fala se de direitos e deveres para com elas.
Somente
a partir do final do século XVII é que a criança passou a ser valorizada, constituindo-se em objeto de interesse
psicológico, através particularmente do interesse do pai da Psicanálise, Sigmund Freud, que considerou a infância como
condição fundamental do humano.
Assim, ao
longo dos trabalhos de Freud, em especial nos seus casos clínicos, nos
deparamos com a neurose infantil como peça chave para o entendimento dos
distúrbios psíquicos na vida adulta.
Em seguida, surge no panorama
psicanalítico Melanie Klein, que passou a investigar e trabalhar com crianças
muito pequenas e a observar, inclusive, o comportamento de bebês, o que lhe
possibilitou dar uma contribuição inigualável para o progresso da Psicanálise,
em particular, para a Psicanálise de Crianças.
A partir daí, Bion e Winnicott, e
tantos outros cujos nomes seria impossível destacar aqui, deram novas e
valorosas contribuições para o incremento da teoria psicanalítica,
principalmente no tocante à compreensão do desenvolvimento da mente primitiva.
Dito
isto, estamos agora diante do nosso questionamento: a criança de Freud, de
Klein, de Winnicott, de Bion, seria a mesma criança de hoje ? Esta é uma
indagação que precisa ficar em aberto num amplo campo de investigação,
particularmente para aqueles que se dedicam à Psicanálise de Crianças ou a
pacientes adultos muito regredidos.
Após o término da II Guerra Mundial,
as patologias “borderlines” passaram a ocupar o primeiro plano na clínica
psicanalítica, requerendo do analista uma habilidade especial.
Nessas patologias, que não podem ser
incluídas nem no quadro das neuroses nem das psicoses, supõe-se terem ocorrido
no desenvolvimento emocional do indivíduo falhas básicas ambientais, que
ultrapassaram os limites toleráveis para a psique do lactente.
Assim, desde a mais tenra infância,
estruturam-se as bases da personalidade, através dos cuidados ambientais: da
segurança, do carinho, da pele psíquica dos pais e cuidadores, É também a
partir daí que começam a ser introjetados pelo bebê, através do processo
identificatório, resultante de uma multiplicidade de identificações parciais,
os primeiros valores sócio-culturais, particularmente os da família. E agora
perguntamos novamente: Como está a família hoje?
A resposta também não é simples, mas
podemos verificar através de dados de observação e pesquisa, a existência de
uma crise, em face da modificação profunda em sua estrutura.
Hoje, não se pode mais falar de uma
só família. A unidade familiar mãe-pai-filho, tão valorizada pelas teorias
psicanalíticas, cada vez mais cede lugar a famílias mononucleares ou à inclusão
dos novos cônjuges dos pais separados como também dos novos filhos. O casamento
entre homossexuais já é uma realidade e
já se discute a adoção de crianças por esses casais.
A autoridade incontestável do homem, provedor e chefe de
família, enquanto a mulher ficava encarregada dos cuidados da casa e dos
filhos, foi alterada na medida em que a
mulher passou a ter o seu próprio projeto de vida, conquistando também o
mercado de trabalho.
Como a licença-gestante é de 4 meses
apenas, a mãe trabalhadora tem que, após esse período, voltar ao trabalho,
momento no qual, de um modo geral, inicia o desmame do bebê, segundo nos
parece, precocemente e num momento delicado do seu desenvolvimento emocional,
quando ele começa a lidar com perdas, separações, luto. O bebê, além de se
separar da mãe, passa a enfrentar situações novas, como creches ou babás,
muitas delas despreparadas para exercer a função de “mãe-substituta”.
Como se tudo isso não bastasse, hoje
pais e filhos vivem numa sociedade globalizada, dominada pela invasão de
imagens, pela televisão, onde o espaço para indagação e reflexão está cada vez
menor e onde a febre do consumo tampona as faltas, a castração, a dor psíquica.
Conseqüentemente, podemos inferir que a criança de hoje, no tocante às
influências sócio-culturais, é bem diferente da de Freud e Klein.
Finalizando,
levanto então o questionamento principal, indagando: O quer uma criança ? A resposta é complexa. Mas, a princípio,
diria que uma criança quer amor: ser desejada por um casal, quer encontrar um
ambiente intra-uterino acolhedor, uma " mãe suficientemente boa" (
Winnicott,1956), com capacidade de "reverie"
(Bion, 1962) , um pai e uma família saudáveis. Mas, infelizmente, embora seja
esse o desejo da maioria dos pais, isto não acontece, pois eles também não têm
introjetados pais suficientemente bons.
E esse impasse transgeracional vai caminhando no mundo de hoje, no qual a
violência e o narcisismo estão fortemente inscritos.
Diante dessas vicissitudes da infância , penso que cabe a nós nos preocuparmos mais com os aspectos preventivos,
particularmente no trabalho com casais,
gestantes e intervenções precoces nas relações mães-bebês. Quem sabe, assim,
contribuiremos para um mundo melhor.
Deixemos nossas crianças viver como crianças brincando sempre ao trilhar o caminho rumo à construção de um ser mais humano e mais divino.
fontes:www.uesb.br
Oi amiga, realmente, concordo com suas palavras. O video Criança vê, criança faz estamos tentando exibir na nossa escola para os pais, temos muitos casos de omissão.
ResponderExcluirAbraços