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Resenha do livro: POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância.

Resenha do livro: POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância. Tradução: Suzana Menescal de A. Carvalho e José Laurenio de Melo. Rio d...

Sou surda e não sabia Filme Completo



O FILME:

O filme retrata a história de Sandrine, quase como um diário, a menina surda que usa a língua dos sinais e relata momentos marcantes de sua história como, por exemplo, o reconhecimento de sua identidade surda para ela e para a sua família. Por sua surdez não ter sido identificada precocemente, Sandrine inicialmente foi desconsiderada pelos pais, que a tratavam como um criança ouvinte, apesar de estranharem algumas de suas atitudes.
Durante todo o filme, Sandrine tem a sensibilidade de contar com muitos detalhes as suas lembranças de criança, quando não tinha ainda sido familiarizada com a língua de sinas e apenas observava as expressões de seus pais. Relata também sua experiência com os cheiros, entre outras situações vivenciadas. Ela conta que desde que seus pais descobriram que ela era surda, passaram a trata-la com um distanciamento que não existia antes. A relação afetuosa que até então compartilhavam se transformou numa enorme preocupação com o “problema” para o qual os pais, apenas recentemente, se despertavam.

Entre um e outro relato carregado de emoção sobre a vida de Sandrine, são tratadas questões comuns entre a população surda e as pessoas com algum tipo de deficiência auditiva como, por exemplo, a detecção da falta total ou parcial da audição. O filme mostra que independente da época em que ocorra esse diagnóstico, ele não costuma ser tratado como algo natural, uma característica distinta identificada na criança, e sim como um “problema” que precisa ser solucionado. Segundo o ponto de vista do filme, a forma como se aborda o diagnóstico de surdez cria uma espécie de expectativa para os pais, baseada no suposto retorno a uma “normalidade” que a criança deveria ter e que ainda pode ser alcançada algum dia.
Sandrine foi matriculada numa escola regular e nela permaneceu até os seus 9 anos de idade, ainda também sem nenhum contato com a língua de sinais e sem que seus pais estivessem convencidos de sua surdez e ou de como deveriam estabelecer uma relação com a menina. Ela conta que na escola integrada sentiu-se perdida, tornando-se, pouco a pouco, invisível aos olhos dos colegas e professores. Nessa escola foi ensinada a falar, e sentia que todo o esforço pedagógico por parte da escola em seu aprendizado se reduzira a “fazer-lhe falar”.
Aos nove anos Sandrine foi colocada num instituto para surdos, onde teve seu primeiro contato com crianças surdas e fez suas primeiras amizades. O filme faz a defesa do bilinguismo e das escolas bilíngues como uma possibilidade de as crianças terem acesso a língua no seu próprio “processo de apreensão do mundo”, a língua de sinais. Ela conta que a língua de sinais não é um obstáculo para aprender a ler e escrever. As escolas bilíngues, como tal, focam no ensino tanto da língua de sinais quanto no ensino da língua escrita e falada, já que estas duas últimas habilidades são importantes para acessar outras culturas ou “à cultura geral”.
Sandrine relata o que possivelmente seja uma situação comum entre a comunidade surda: a convivência entre os “dois mundos” diferentes. Ou seja, ter dois espaços de convivência com os quais acabam se habituando: o espaço oral e o da língua de sinais. Muitos dos obstáculos encontrados na vida e nos espaços de socialização das pessoas surdas vem do próprio preconceitos de pessoas ouvintes, que ainda têm a ideia da surdez como uma incapacidade. Graças ao ativismo e a luta junto a outras pessoas surdas, que Sandrine e muitas outras pessoas da comunidade surda conseguem reafirmar sua identidade, mostrar que existem e que não são incapazes.
No final do filme, vemos algumas cenas da passeata do Dia Mundial do Surdos, onde se relata que a Federação Mundial dos Surdos (World Federation of the Deaf, WFD) é uma organização não-governamental reconhecida pela ONU, que representa cerca de 70 milhões de pessoas surdas no mundo inteiro. Vale a pena resgatar do filme um trecho do relato de um dos participantes do movimento:

“(...) Quando eu era pequeno via filmes de índios. Eu não entendia por que eles tinham o rosto pintado, andavam com pano nos quadris e tinham penas na cabeça. Eu olhava por toda a parte na França e não via nenhum. Eles brigavam, lançavam flechas, tinha sangue para todo lado. Eu gostava quando a cavalaria chegava. Eles os expulsavam e reestabeleciam a paz. Quando comecei a lutar pela causa dos surdos, fiz o paralelo e entendi que éramos como os índios, porque eles tinham um lugar e deixaram de ter (...) Eu vi que a meta da nossa militância era impedir o desaparecimento da língua de sinais. Respeito a escolha de cada um. (...)”

 Comentário:
Exatamente como explicitado por um personagem ativista no filme, "entendi que éramos como os índios, porque eles tinham um lugar e deixaram de ter", a cultura surda quase se extinguiu. Séculos de segregação, e abandono, fizeram calar a "voz" dos indivíduos com deficiência auditiva,  estagnando a disseminação da língua de sinais pelo mundo. Quanto mais voltarmos no tempo, mais poderemos observar como a sociedade via o deficiente: Como um "nada". 

    " O surdo percebe o mundo de forma diferenciada dos ouvintes, através de uma experiência visual e faz uso de uma linguagem especifica para isso a língua de sinais. Esta língua é, antes de tudo, a imagem do pensamento dos surdos e faz parte da experiência vivida da comunidade surda. Como artefato cultural, a língua de sinais também é submetida à significação social a partir de critérios valorizados, sendo aprovada como sistema de linguagem rica e independente". (QUADROS, 2006)

A cultura surda tem muito a nos ensinar. Temos que nos "incluir" neste mundo de cultura tão particular e tão fascinante. Não foi sempre assim, podemos acompanhar historicamente a trajetória desta comunidade repleta de atrocidades. Foram anos de solidão social, sem existir para a sociedade eram escondidos no internatos ou nos porões das casas. Não passavam de um fardo. A mulher que dava a luz à um filho surdo poderia ser abandonada pelo marido. Quanto preconceito.

"Na década de 90, a partir da Declaração de Salamanca, as políticas de diretrizes da Educação Especial começaram a mudar e passaram a ter subsídios na proposta da inclusão. Pode-se encontrar nessa declaração a seguinte afirmação; o surdo deve ser inserido de fato, para que possa ter sua cidadania respeitada (Declaração de Salamanca, 1990, p.2). Por isso, acreditamos que é necessário a existência de políticas efetivas". (SOARES, 1999)

A luta não acabou, ainda existe muito a se fazer pela inclusão. Acredito que respeito e informação ainda 
são as armas mais fortes para que consigamos chegar ao objetivo de uma escola democrática para todos.
Um grande exemplo este filme. A pessoa apenas não ouve. Mas ela sente, sofre, sonha, planeja, produz etc.
Sandrine tem uma vida normal, e certamente é mais produtiva e feliz que muitos "ouvintes" por aí.

Danúbia Rocha


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