"A escola mata a criatividade"
Consultor de governos europeus, o
professor inglês diz que o sistema educacional inibe as habilidades pessoais. E
que nem todos precisam ir à universidade. Patrícia
Diguê
O mundo se divide em duas categorias de
pessoas: aquelas que dividem o mundo em duas categorias e aquelas que não.”
Arrancando gargalhadas do público de suas conferências, o especialista em
educação e criatividade britânico Ken Robinson, 50 anos, questiona por que a
maioria das pessoas passa a vida odiando o que faz, “apenas esperando pelo
final de semana”, enquanto outras conseguem descobrir seu “elemento-chave”,
termo criado por ele que significa a junção do que se faz bem com o que se ama
fazer. Robinson conclama o mundo para uma revolução na educação, criando nas
escolas um ambiente propício para que os talentos floresçam. Em sua opinião,
aquele que não está preparado para errar jamais fará algo de original.
"A maioria das pessoas leva a
vida sem nenhum prazer no que faz.Apenas toca a vida, esperando pelo sábado
e o domingo"
“O atual sistema educacional mata a
criatividade”, afirma. “As escolas estão obcecadas em colocar os alunos na
universidade”, diz. Professor emérito da Universidade de Warwick, na
Inglaterra, Robinson foi consultor de governos europeus, asiáticos e americano.
Na Grã-Bretanha, elaborou para o primeiro-ministro Tony Blair (1997-2007)
relatórios de estratégias sobre criatividade, cultura e educação e participou
do processo de paz da Irlanda do Norte nos anos 90. Alcançou o grande público
com seus livros, que defendem a bandeira do talento e da criatividade. Ele já
publicou três best sellers traduzidos para mais de 15 idiomas, mas apenas o
terceiro, o recém-lançado “O Elemento-Chave” (Ediouro), está disponível para os
brasileiros. Sua popularidade aumentou ainda mais depois que suas conferências
foram colocadas no prestigioso site TED, palco de palestras de grandes
lideranças mundiais.
"As crianças vivem em um mundo digitalizado e nossa educação é do século passado.Falhamos em conectar os estudantes aos seus talentos"
ISTOÉ -
O que significa elemento-chave?
KEN ROBINSON -
É o que uma pessoa faz naturalmente
bem, se divertindo e se sentindo confortável. Pode ser qualquer coisa, como
tocar guitarra ou ser bom em matemática. Mas encontrar seu elemento-chave não é
somente fazer algo muito bem, porque há muitas pessoas que são boas no que
fazem. É também amar o que se faz. Se você gosta daquilo que faz bem,
efetivamente está em seu elemento. Mas a maioria das pessoas não tem esse
sentimento quando pensa no trabalho delas. Elas levam a vida sem nenhum prazer
no que fazem. Frequentemente, não estão fazendo a coisa certa – e não sabem
qual é a coisa certa. Então apenas tocam a vida, sem nenhum sentido.
ISTOÉ -
Como fazer, então, para identificar o
que você gosta realmente de fazer?
KEN ROBINSON -
Uma das formas de perceber se você está
em seu elemento é analisar, por exemplo, seu senso de tempo. Se você faz alguma
coisa de que gosta, uma hora pode passar em cinco minutos. E o contrário também
é verdadeiro. Se você faz alguma coisa de que não gosta, cinco minutos se
tornam uma hora e você passa a semana apenas esperando pelo sábado e o domingo.
Além disso, se a pessoa faz o que gosta, no fim de semana se sente fisicamente
cansado, mas não espiritualmente. Se perguntar por que essas pessoas não fariam
outra coisa, não vão nem entender o que você quer dizer, vão dizer que o que
elas fazem na vida é o que amam fazer, não se imaginam fazendo outra coisa e
não querem mudar.
ISTOÉ -
Mas há algum tipo de passo a passo?
KEN ROBINSON -
A primeira lição é acreditar que todos
nós temos talentos naturais e habilidades reais. Mais do que isso, temos o
direito de descobrir e explorar isso. É preciso ter fé em nós mesmos. Uma
recomendação é a pessoa gastar um tempo consigo mesma, para pensar o que ela
realmente gosta de fazer e o que teria prazer de fazer para a vida toda. Depois
que descobrir, é preciso estar disposta a arriscar, aproveitar e explorar essas
oportunidades e talentos, tentando várias coisas diferentes, se deixando sentir
tolo às vezes, sabendo lidar com críticas e enfrentando os próprios medos.
ISTOÉ -
Existe uma idade certa para isso?
KEN ROBINSON -
A pessoa pode descobrir seu talento em
qualquer idade. Conheço pessoas que encontraram seu elemento-chave quando já
não eram mais jovens. Semanas atrás, por exemplo, estava conversando com uma
senhora de 50 anos que disse que achava que era muito tarde para ela, pois sua
grande vontade era dançar balé. Eu disse que provavelmente era realmente tarde
para ela ser a dançarina principal do Ballet Bolshoi e perguntei qual era o
aspecto do balé de que ela gostava, porque se tivesse a ver com ser capaz de
mover o corpo com a música, então por que não experimentava outros tipos de
dança? Há muitos outros tipos de dança que ela poderia experimentar. Outro
exemplo é uma tataravó que conheço que resolveu estudar direito e acabou de
terminar o curso. Antes, ela não podia, estava criando uma família.
ISTOÉ -
Garimpar seus talentos e habilidades é
uma questão de sorte?
KEN ROBINSON -
Geralmente, quem está em seu elemento
diz isso: que teve muita sorte. Mas esses “sortudos” tiveram atitudes
diferentes na vida, em comparação aos insatisfeitos. Claro que os primeiros
tiveram oportunidades e circunstâncias para tirar proveito, mas ainda assim
correram riscos e desejaram tentar algo diferente. Estiveram abertos às
oportunidades e enfrentaram a forte oposição de parentes e amigos, que achavam
que o que eles faziam não era usual. Souberam lidar com as críticas.
ISTOÉ -
As pessoas podem ter mais de um
talento?
KEN ROBINSON -
Sim, se elas se sentem igualmente
propensas a fazer coisas diferentes, não há regras para isso. Além do que, o
elemento-chave pode mudar de tempos em tempos: num momento nos sentimos bons em
algo e depois em outra coisa. Isso tudo tem a ver com energia, nossas vidas não
passam de energia. Precisamos conectar nossas energias às nossas paixões e
fazer coisas que tenham significado e propósito. Isso não é novo, é encontrado
fortemente em diversas tradições que respeitam a parte espiritual e a energia.
ISTOÉ -
Por que a maioria das pessoas acha que
não tem talento?
KEN ROBINSON -
A principal causa é a educação. Nosso
sistema de educação formal tem 200 anos e durante esse tempo falhamos em
conectar os estudantes aos seus talentos. A escola mata a criatividade. Fazemos
um uso pobre dos nossos talentos. O sistema é obcecado com as habilidades
acadêmicas, em levar os alunos para a faculdade. Nem todo mundo precisa ir para
a universidade, nem todo mundo precisa ir na mesma época da vida. Conversei com
um rapaz que é bombeiro e ele disse que sempre quis ser bombeiro, desde
criança, mas não era levado a sério porque costumam achar que todo garoto sonha
em ser bombeiro. E ele ouvia de um professor que iria desperdiçar seu talento.
Mais tarde, ele salvou a vida deste professor. Ou seja, as comunidades dependem
da diversidade de talentos, não de uma só concepção.
ISTOÉ -
O que há de errado com nosso sistema
educacional?
KEN ROBINSON -
Somos formados por um sistema
educacional fast-food, em que tudo é padronizado, industrializado. Temos de
mudar isso para uma educação manufaturada, orgânica. E aprender que o
florescimento humano não é um processo linear e mecânico, mas orgânico. A educação
precisa ser customizada para diferentes circunstâncias e personalizada. É
preciso criar um sistema em que as pessoas busquem suas próprias respostas.
ISTOÉ -
O sr. pode dar algum exemplo concreto?
KEN ROBINSON -
As escolas gastam muito tempo com
matemática, por exemplo, mas há muito pouco de arte, que, para mim, é
fundamental em nossas vidas. As artes visuais e a dança são expressões dos
sentimentos humanos, da nossa cultura, mas nas escolas são deixadas de lado, ou
pior, até ignoradas. As escolas são obcecadas com um tipo específico de talento
e acabam ignorando os outros. Desde a minha juventude, estive cercado de
pessoas que me pareciam extremamente talentosas, divertidas e interessantes,
mas que estavam profundamente frustradas e pensavam que não tinham nenhum
talento, não acreditavam que poderiam conquistar algum respeito. Ao mesmo
tempo, também conheci outras que alcançaram muitas coisas. Sempre achei que a
educação era a solução para isso.
ISTOÉ -
Como é possível mudar essa situação?
KEN ROBINSON -
É preciso tornar a educação mais
pessoal, em vez de linear. A vida não é linear. Embora isso seja difícil, não
há outra alternativa. Se quisermos encorajar as pessoas a pensar, temos que
encorajá-las a ser aventureiras e a não ter medo de cometer erros. Ao longo da
vida, os indivíduos vão se tornando mais conscientes e constrangidos e ficam
com medo de cometer erros, porque passam por situações em que dão respostas
erradas, se sentem estúpidos e não gostam deste sentimento. É preciso criar uma
atmosfera, tanto na escola quanto no trabalho, em que não há problema em estar
errado.
ISTOÉ -
O sr. é a favor de uma grande reforma
escolar?
KEN ROBINSON -
Muitos sistemas educacionais pelo mundo
estão sendo reformados. Mas reformar é inútil agora. Precisamos de uma revolução
na educação, transformá-la em outra coisa. Inovar é difícil porque é preciso
lidar com coisas não óbvias, fora do senso comum. As crianças hoje, por
exemplo, vivem em um mundo digitalizado, enquanto nossa educação é do século
passado. Eu sei que é um trabalho árduo, que implica um grande esforço para ser
revertido, mas no mundo inteiro há países que estão tentando consertar isso com
seriedade. Os pais também têm seu papel e eles devem começar por dar o exemplo,
ou seja, eles próprios aprendendo mais sobre seus talentos.
ISTOÉ -
É possível recuperar a criatividade
depois de ser educado dessa forma impessoal?
KEN ROBINSON -
Sim. Primeiro você precisa entender o
que é criatividade. As pessoas pensam que ser criativo é fazer coisas especiais
e que poucas pessoas são especiais. Ou, então, que pessoas criativas são
aquelas com espírito mais livre e um pou co loucas. Mas para ser criativo basta
que você esteja executando qualquer coisa, ninguém é criativo na esfera
abstrata. E isso pode ser resgatado em qualquer momento da vida.
ISTOÉ -
Para desenvolver os talentos é
imprescindível um mentor?
KEN ROBINSON -
Ter um mentor é sempre útil, alguém que
o encoraje e veja talentos que nem mesmo você sabe que tem. Pode ser os pais,
um amigo, vizinho, parente. Ter alguém que o encoraje pode fazer toda a
diferença.
ISTOÉ -
Como o sr. educou seus filhos?
KEN ROBINSON -
Sempre tentei encorajá-los nas coisas
em que eles demonstravam interesse. Minha filha é professora de crianças em Los
Angeles e meu filho é ator e agora está tentando se tornar escritor. No final
das contas, você não pode viver a vida deles por eles, mas apenas estimulá-los
a aproveitar as oportunidades.
Oi minha Chara, obrigado pela visita no meu cantinho.
ResponderExcluirSeu blog tbm é um encanto.
Tbm temos outra coisa em comum, eu amo essas meninas da cute colors rsrsrs.
Bjão, Dan Biscuit.